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Vhraz'akan
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Seg Set 21, 2020 9:49 pm
Relembrando a primeira mensagem :

[CL] Póstumo - Página 2 55MaafL
SUMÁRIO


OBJETIVOS PRINCIPAIS

  1. Entender sua condição atual de morto-vivo;
  2. Entender as próprias capacidades e limitações físicas;
  3. Estudar a necromancia e suas possibilidades.

OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

  • Estudar sobre espíritos e suas variações;
  • Encontrar um grimório não-primal;
  • Iniciar aprendizado de um idioma não-alureano;
  • Descobrir a existência da Aldeia Netheria.

MISSÕES CONCLUÍDAS

  1. HELL'S KITCHEN; simples
  2. AQUILO QUE QUER SER ENCONTRADO; simples

RECOMPENSAS

  1. 75 XP — 20 de Ouro — 1 Baú Básico (Equipamento lvl 1)
  2. 50 XP — 1 Baú Básico (Poção de Vida)

CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS

  1. Conhecimento básico sobre a raça Lich;
  2. Conhecimento sobre a existência dos Portões da Morte;
  3. Conhecimento superficial sobre A Cadência para o Leste;
  4. Conhecimento básico sobre a história da Aldeia Netheria;
  5. Conhecimento superficial sobre a Garganta do Desespero;
  6. Conhecimento superficial sobre as Criptas Profanas;
  7. Conhecimento sobre o Olho Lúgubre fazer parte do Conceptáculo;
  8. Conhecimento superficial sobre a oculariência e seu funcionamento;
  9. Conhecimento básico a respeito dos Faunos Cinzentos e suas afinidades manariais.

Vhraz'akan
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Seg Out 12, 2020 10:30 pm

R ecordo de apenas alguns lampejos em meus instantes de consciência. O pouco das energias que eu recobrava eram usadas unicamente para abrir os olhos com muito pesar, enxergando tudo como se por trás de borrões enegrecidos nas laterais. Embora houvesse solo ficando para trás, eu não me movimentava, o que fez-me concluir que estava sendo carregado por alguém. Numa breve olhadela para baixo, quando minha cabeça pesou, notei que no lugar onde deveriam estar os calcanhares do meu algoz, haviam cascos.

Fauno, lembrei-me.

Tentando reunir forças, me agitei bruscamente e talvez pela surpresa, o híbrido acabou não conseguindo evitar que eu deslizasse por seu ombro e caísse no chão. Senti a terra úmida e o intenso aroma podre que de alguma forma passou a entrar pelas minhas narinas. Era muito, infinitas vezes mais forte que qualquer outro mau cheiro que eu sentira até então - razão talvez pela qual pudesse o captar independente da ausência de olfato.

Quando o fauno tomou-me contra minha vontade nos braços, avistei uma grande e confusa construção flutuando abaixo de uma enorme lua cheia. O modo como o castelo se erguia e dividia-se era curioso, intrigante, da mesma maneira que todo o resto em Charissa. Contudo, o mais assustador, até para alguém como eu, foi aquela sensação de perigo em um nível tão alto que fez todo o cenário ser tingido de carmim diante dos meus olhos.

[CL] Póstumo - Página 2 IJYY1mi

Delirando, deixei de lado a inquietude da vermelhidão e percebi que não haviam quaisquer degraus que nos permitissem uma subida. Antes de imaginar como faríamos para alcançar as entradas, meus sentidos me abandonaram e desmaiei novamente.



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[CL] Póstumo - Página 2 Empty Re: [CL] Póstumo

Seg Out 12, 2020 10:37 pm

P osso jurar que somente um breve instante havia se passado. Posicionado de joelhos, cabeça baixa, abri os olhos e visualizei meus punhos em descanso sobre as coxas, amarrados com... uma espinha humana? Conforme minhas energias eram recobradas, conseguia tornar a raciocinar e assimilar os últimos acontecimentos, bem como absorver a imagem do cenário ao meu redor. Tratava-se deu um salão amplo e circular, com escadas nas laterais que desembocavam num andar superior, onde um trono constituído por ossos jazia.

Ele irradiava poder, me chamava, me fazia ter vontade de superar todos os degraus, fosse os da direita ou da esquerda, e sentar-me por fim nele como o soberano que eu deveria ser. Dali de cima, seria capaz de olhar para aqueles faunos estranhos do ângulo que me era cabível, não ajoelhado e humilhado desta forma.

Espere.

O sentimento que o trono despertou em mim fez-me ignorar completamente a presença dos peculiares híbridos. Encostados nas paredes, ou mesmo sentados, haviam seis deles. O que me enfrentara anteriormente descansava as costas contra o concreto do castelo, embora seus olhos estivessem fixados em mim abaixo do mesmo cenho franzido de nosso primeiro encontro. Fora ele, mais três possuíam a mesma tonalidade cinza em seu corpo, bem como algumas características que eu jamais pensaria pertencer a um espécime dessa raça. Os outros dois, uma suposta adolescente que numa primeira impressão aparentava ser a mais normal deles, e um outro com aspectos, postura e trejeitos no mínimo asquerosos, como se sofresse de alguma enfermidade.

— Parece que o zumbi ali tem nojo de você, Burmahk. Duvido que ele vá ficar muito melhor com os miolos esmagados — era uma das mulheres que falava, a de pele cinzenta com uma espécie de porrete nas mãos.

O fauno corcunda, por vez, apenas coçou suas costelas, cabisbaixo e envergonhado.

— Foi isso aí que matou o Braqwees? — questionou a mais nova, fazendo-me entender finalmente parte do porque eu estava ali. — Aposto que eu mesma dou conta dele — comentou com humor na voz.

— Tente — desafiei-a, cuspindo no chão em seguida.

— Niqemae, Zhonyee, não criemos confusões aqui. Sabem como ela odeia inconvenientes — interviu o mais velho deles, dono de apenas um chifre e um cajado negro amadeirado nas mãos.

— Mole como sempre, Luvwieq — caçoou o quarto cinéreo, este que escondia o rosto atrás de uma máscara dourada enquanto polia um arco da mesma cor.

Diante dos comentários, olhares e até mesmo desdém por parte daquelas criaturas, eu senti apenas desprezo. Como se atreviam a fazer isso? Como eu poderia saber que aquele fauno moribundo nas ruínas era parente ou coisa assim deles?

Estava farto da situação sem nem mesmo ela ter começado direito. Canalizei meu fluxo de mana pelos braços, pronto para liberar sobre eles minha aura necrótica e fazê-los se cagarem de medo. Isso me daria tempo o suficiente para levantar e sair pelas portas que se encontravam mais atrás, coisa que chequei durante o debate deles.

Com os dedos formigando, nem mais um segundo seria necessário, e então decidi agir. Levantei minhas mãos, ambas ainda presas por aquela espinha, e então ouvi um acorde que fez todo o meu corpo entorpecer.



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[CL] Póstumo - Página 2 Empty Re: [CL] Póstumo

Seg Out 12, 2020 10:39 pm

E ra como se não houvesse nenhum resquício de mana fluindo pelas minhas veias, como se um véu de impotência caísse sobre mim, cobrindo-me e envolvendo-me para a medida em que meus sentidos eram amortecidos por ele. Não conseguia mover um dedo sequer, nem abrir a boca e muito menos raciocinar direito. De alguma forma, minhas pálpebras ainda mantinham-se abertas, e notei que meus olhos conseguiam dançar pela cavidade ocular. Foi então que vi, como se estivesse sentada ali desde o início, uma criatura com três pares de braços dedilhando um instrumento musical.

[CL] Póstumo - Página 2 HFuTSCc

Sua melodia certamente era o que estava me impedindo de agir. Os tons que suas cordas emitiam entravam pelos meus canais auditivos e mexiam com todo o meu corpo, tornando-o impotente independente da força interior que eu tentasse reunir para resistir. Não adiantava. Arrisco dizer inclusive que só não adormeci, ou coisa muito pior, por ser dono de um intelecto em partes avantajado. Não fosse isso, certamente teria ficado débil devido ao modo como aquelas notas permeavam meu cérebro.

Somente quando o ritmo foi alterado pelos dedos do encapuzado que senti o estupor ir embora.


Essa nova melodia era prazerosa, porém melancólica. Podia imaginar uma pessoa solitária e ao mesmo tempo autossuficiente, sentada sobre uma cadeira confortável e aproveitando de cada nota entoada, cada pequeno detalhe emitido por entre o conjunto de cordas do instrumento. Ah, sim... conseguia visualizar perfeitamente uma poderosa mulher vestindo uma espécie de tiara negra por cima de cabelos tão escuros quanto, arrumando as dobras do vestido enquanto sua pele extremamente ávida era agraciada pelo toque do suave tecido. Uma breve olhadela de seus olhos verdes no reflexo do espelho era o suficiente para que ela constatasse estar pronta. Não... ela havia nascido pronta.

Pronta para o que?

Caminhava com passos inaudíveis, e embora todo seu corpo aparentasse leveza, ela irradiava uma aura e personalidade que podiam ser sentidas de longe. Haviam traços invejáveis em cada pedaço de sua bela existência, mas ela não era alguém com quem se pudesse competir. Se você entrasse em seu caminho, seria esmagado. Se tentasse alguma coisa, um simples estalar dos seus dedos seria o suficiente para resolver o problema. Ela precisava apenas ser temida, e nada além.

Conforme rumava pelos corredores, todo o ambiente ia se tornando frio. O próprio clima rendia-se frente ao seu avanço, e logo você entendia que nada a pararia. Servos esqueléticos curvavam-se, outros com um pouco mais de noção ajoelhavam-se, e assim ela seguia, imponente, solitária pela ausência de qualquer possível aproximação, autossuficiente dentro de suas próprias conquistas e nível de poder.

Portas cravejadas de ossos dos mais diversos tipos abriam-se sozinhas, escadas colocavam-se no caminho da mulher quando era necessário, e não havia nada, sequer uma coisa que não agisse ali em prol de sua vontade. E assim sendo, ela não tardou em chegar na sala do trono, respondendo minha pergunta anterior.

Pronta para reinar.

Tão logo manifestou-se fisicamente, o encapuzado retesou seu dedilhar e interrompeu a melodia. Era nítido que uma vez a mulher estando presente, somente ela e nada mais deveria chamar a atenção. Os faunos curvaram seus dorsos, e eu ajoelhado, senti-me quase que obrigado a fazer o mesmo. Após toda a cena tecida pelos acordes do músico, cada pedaço de mim estava compelido a não demonstrar qualquer resistência ali.

Como se numa reação automática frente ao posicionamento da mulher que aguardava de pé, esperando as saudações, inclinei-me em demonstração de respeito. Em meu âmago, sentia-me furioso por ser coagido a colocar-me numa posição como aquela. Ela, por vez, nos observava completamente inexpressiva do alto de sua magnificência.

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[CL] Póstumo - Página 2 Empty Re: [CL] Póstumo

Qua Out 14, 2020 2:13 am
[CL] Póstumo - Página 2 Pelo-trono


Em sua presença, todo o resto parecia ridiculamente pequeno.

Toda aquela estrutura gótica responsável por moldar o castelo havia num instante transformado-se numa escala de apenas um décimo de sua verdadeira grandeza uma vez em que a mulher cadavérica assumiu seu trono. De repente, foi como se aquele assento, tão almejado por Vhraz’akan anteriormente, tivesse finalmente ganhado um propósito frente aos sentimentos que despertara em seu interior — para algo de tão grande porte e domínio pscicológico, era de se esperar que somente alguém específico poderia completá-lo de maneira tão perfeita. Aquele construto de braços ósseos e um recosto moldado num amálgama de ferro e órgãos serviu como uma luva à recém chegada que, de maneira tediosa, observou aqueles ao seu redor como se fosse apenas mais um dia de sua rotina.

A franja sedosa projetava uma sombra sobre seu semblante, embora estivesse longe de demonstrar qualquer tipo de emoção. Tal qual o ungulado máscara d’ouro, embora não usasse um apetrecho para tal, tornava-se impossível saber quais eram suas reflexões no momento apenas por expressões faciais, uma vez que viam-se completamente ausentes em qualquer um de seus traços.

Mais de perto, o lich percebeu que havia algo semelhante a vasos sanguíneos conectando a sua região moribunda com o restante da face ainda imaculada. Forçando ainda mais a vista e certo grau de percepção, também concluiria que aquele coração exposto mantinha-se bombeando o mesmo líquido verde bruxuleante responsável por trazer uma espécie de claridade fosca ao rosto da mulher — a mesma tonalidade de seus olhos e presente em diversas partes do trono em que sentava. Juntando ainda mais detalhes, desvendou o que tratavam-se das partes irreconhecíveis fundidas à obsidiana e ossos: os órgãos que também compunham o assento perfeito para a desconhecida mantinham-se em funcionamento e, se tinham alguma sinergia entre si, não era algo tão simples de se perceber.

Vhraz’akan sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo quando percebeu que havia um par de pulmões naquele trono que inflavam-se apenas para retesar em sequência.

— Um passo a frente apenas o responsável — a voz feminina e extremamente aveludada rompia quaisquer estigmas relacionados à frieza ou arrogância. Vhraz’akan, apesar de ainda sentir-se impotente, percebeu o grau de tranquilidade naquela frase. — Strenmyr.

Foi o fauno responsável por enfrentar Vhraz’akan que rumou frente ao chamado da mulher. Trazendo seu machado de maneira respeitosa, trotou lentamente até que estivesse ajoelhado frente à figura imponente sentada no trono que parecia repelir olhares ao mesmo tempo em que atraía a curiosidade alheia.

— Vossa Majestade, trouxe aquele que retirou um dos nossos para que tenha o julgamento necessário e, dessa forma, honremos sua memória — a formalidade não encaixava em seu tom áspero, o necromante percebeu que ele ao menos tentava parecer menos casual o possível. Os demais faunos mantinham-se com as cabeças abaixadas, embora não mantivessem a mesma postura: demonstravam nervosismo, anseio e também uma fina parcela de medo.

A mulher observou-o com desdém. Seus olhos esverdeados sequer pousaram sobre a imagem de Vhraz’akan, muito pelo contrário: ignoravam-o completamente.

— E?

Com certo descaso, ela balançou seus dedos unidos de largas unhas esverdeadas apenas para fazer com que uma pilha de ossos mais ao longe começasse lentamente a forjar algo no centro de todo o salão, no meio de todos que encontravam-se de cabeças baixas. Lentamente o construto foi ganhando forma — algumas patelas e vértebras formaram cadeiras de tamanhos avantajados, enquanto espinhas dorsais e crânios moldavam quinas, bem como suportes para a superfície da mesa que surgiu logo depois com uma junção de tibias, úmeros, rádios e ulnas. Ao longo daquele minuto, ninguém atreveu-se a comentar sobre qualquer tom adotado pela mulher em seu tom de voz — apenas observaram o artista esculpir sua obra óssea conforme mais alguns detalhes eram adicionados.

Um vulto surgiu sobre a longa mesa de ossos, manipulando com seus três pares de braços pequenas jarras de vidro e taças que eram distribuídas com muita elegância. O violinista flutuou como um verdadeiro espectro sobre a cena, dando os retoques finais conforme adicionava alguns papéis, toalhas de luxo e até mesmo pergaminhos sobre a superfície de rádios e ulnas imbuído da mais pura maestria.

— Majestade Avareza… — Strenmyr continuou com certo pesar em sua voz — em nossa cultura, honramos aqueles que se foram por mãos indignas oferecendo os restos mortais do culpado aos Ohamas, guardiões de tudo o que se floresce na terra para ser enterrado por ela pró—

— Você vê alguma semelhança de Charissa com…? — pausou como se tentasse lembrar-se do nome.

— Visydia — complementou o mais velho.

— Não, Vossa Majestade.

— Assunto encerrado. Mais algo? — Ela continuava a esculpir detalhes na mesa até que estivesse completamente condecorada em pura luxúria e nobreza, embora houvessem apenas ossos em sua obra.

— O que faremos com ele, então? — A mais jovem interrogou.

— Podemos escravizá-lo ou usar de saco de pancadas — A dona do porrete trouxe a solução com um sorriso.

— Ele é um lich. Fraco. Reanimado há pouco tempo. Só de estar aqui caminhando pelo mundo dos vivos preso no corpo de um morto já é castigo o suficiente para a eternidade — Avareza fez um gesto para que aquele mesmo vulto munido de seis braços ajustasse um osso fora de lugar na mesa. — Entendam que não há justiça na lei dos mortos como nós, apesar de estarmos em níveis extremamente distintos. Vocês, faunos, têm mais preocupações para lidar do que um zumbificado digno de pena.

— Do que está falando? Por qual motivo pediu para que trouxéssemos-no então? É tudo uma brincadeira com a gente, não é? Você só está nos usando no meio disso tudo! — A fêmea munida de seu porrete exasperou-se, fazendo com que o corcunda mais ao lado se encolhesse de medo.

Foi intantâneo.

A faunesa levou ambas as mãos à garganta, como se garras de ferro estivessem impedindo-a de respirar. A melodia entoada pelo violinista voltou no mesmo instante, com acordes melancólicos responsáveis por fazer toda a organização da mesa ser finalizada com chave de ouro. As taças endireitavam-se, a jarra com um líquido puramente escarlate serviam os copos de vidro com muita elegância. O porrete caído no chão levantou-se como se movido por mãos invisíveis.

— Ela não sabe o que fala, deixe-a com suas blasfêmias — o seu olhar sequer virou-se para a faunesa que, agora, voltava a recuperar o ar em longas respirações. — Mas sabe exatamente com quem fala. Talvez não tenha passado tempo o suficiente no calabouço, cara faunesa?

A melodia cessou.

— De toda forma, isso não são modos de receber o novo integrante. De agora em diante, vocês serão seis faunos e um lich. Não questionem, uma vez que não entenderiam as motivações.

Os demais não abriram a boca para sequer uma única palavra. Strenmyr foi o único a dirigir um olhar extremamente furioso para Vhraz’akan ao longe. Com um estalar de dedos, a espinha que algemava os pulsos do raptado desfez-se em uma nuvem de pó óssea. Na sequência, uma ordem para que se sentassem à mesa foi o prelúdio do que estava por vir. Os faunos tomaram seus lugares sem sequer levantar a voz — até mesmo o lich sentiu-se instigado a sentar, independente de seus sentimentos a respeito. O vulto violinista sumiu antes que a percepção do lich pudesse alertá-lo de sua ida: como se nunca nem tivesse estado ali, agora restavam apenas as lembranças de sua melodia fúnebre e o sentimento de opressão que causava em cada gesto realizado.

Havia uma taça preenchida daquele líquido escarlate para que Vhraz’akan bebesse. Os demais já iniciavam suas cerimônias bebericando com volúpia, por exceção de Strenmy e da dona do porrete.

Sem mais nem menos, os portões do saguão abriram-se imediatamente. Lá fora, a lua cheia encontrava-se em seu auge por detrás de mais construções chari deformadas — pelo que pôde ver, pelo menos mantinha-se nas imediações da dissidência. Três figuras aproximavam-se ganhando entrada no castelo, uma delas em especial chamou em muito a atenção do lich, seja pelos cabelos grisalhos, as rugas destacadas ou a o cinismo estampado em sua face: Baba Yaga estampava um sorriso de dentes extremamente apodrecidos com orgulho.

— Gostou da nova casa, maldito? — caçoou com uma risada estridente.

Um trovão escarlate rompeu os céus ao longe pela visão da entrada, destruindo uma torre chari apenas para que se reconstruísse instantaneamente logo após. Os portões fecharam-se. Os convidados haviam chegado.



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[CL] Póstumo - Página 2 Empty Re: [CL] Póstumo

Qua Out 14, 2020 2:13 am
[CL] Póstumo - Página 2 Pelo-trono


A bruxa não estava sozinha. Embora fosse a menor presença, mais familiar a Vhraz’akan e menos temerosa, de alguma forma os demais que ladeavam-na não pareciam conectarem-se de alguma forma. Como um quebra-cabeça montado com peças extremamente opostas, à direita, uma figura completamente etérea que sequer tocava o próprio piso de entrada — suas botas encontravam-se suspensas, enquanto o elmo escondia-lhe a face. Uma coloração azul emanava de seu corpo como se não pudesse ser tocada, indo mais além, como se qualquer detalhe fosse capaz de atravessar sua aparência translúcida, visto que tornava-se possível enxergar os portões fechados atrás de sua figura fantasmagórica. Enquanto isso, na esquerda, um homem careca e com estanhas runas marcadas em sua face trajava um vestido inteiramente vermelho com uma gola destacada, de lábios negros e olhos tão misteriosos quanto um abismo sem fim.

Mas Baba Yaga conseguia completamente cortar o tom de seriedade do momento. Como se fosse uma velha conhecida sendo convidada para o café da tarde, ela foi a primeira a reclamar da decoração do lugar e sentou-se em uma das cadeiras vazias. Os faunos mantiveram-se de cabeças abaixadas, bebericando o líquido da taça e trocando murmuros entre si.

— Nem um tapete vermelho? Eu esperava mais — a idosa virou o nariz para o que estava sobre a mesa e não fez questão de tocar em sua taça.

A figura fantasmagórica apenas atraiu-se para o assento de maneira extremamente categórica. Sentou-se como se fizesse parte de um ritual — nem mesmo uma palavra fora emitida até então, do oposto do homem careca que pediu permissão antes de tomar um assento do outro lado da mesa, observando a bebida avermelhada dentro da taça e bebericá-la em seguida com certa elegância. Ao longe, sentada em seu trono, a mulher cadavérica continuava com seu semblante totalmente imerso em uma feição tediosa, como quem pouco se importa com a cena.

— De antemão, agradeço o convite, Majestade Avareza. Creio que nossos ideais se alinhem tendo em vista o momento que enfrentamos… ainda que nem todos sejamos respeitosos à oportunidade dada — o homem lançou um olhar para Baba Yaga ao lado, que pouco importava-se com as palavras ditas.

A bruxa riu.

— Poupe as formalidades, Lorde Zhurati. Sei que é o mais propício a ruir nossos planos com suas palavras bem enfeitadas e postura elegante, ao menos, ambos seguimos nossas ambições acima de tudo. Esse é o único motivo pelo qual está aqui hoje. — Avareza retrucou enquanto um olho abria-se no apoio de seu braço no trono para observar aquele que trajava o vermelho.

— Com certeza, Zhurati! Respeitoso mesmo é querer surrupiar o que é dos outros, não é mesmo? Bwahahaha! — Baba Yaga adicionou gotas azuladas de seu frasco na taça, transformando o líquido num púrpuro antes de bebericar. Ofereceu para o fauno corcunda ao seu lado que tremia da cabeça aos pés. — Ih, esse não é aquele que tinha morrido?


Os demais ungulados dirigiram-na um olhar de repreensão, mas a bruxa pouco ligou.

O homem prolongou-se em retribuir o olhar dado ao trono que, por sua vez, engoliu novamente para sua fusão de obsidiana com órgãos. Havia algo ali que Vhraz’akan percebeu pelo simples clima de tensão estabelecido. Lembrou-se por alguns instantes daquela sensação de cobiça e posse que corromperam seu consciente assim que encontrou o assento pela primeira vez, mas desfez-se desses assim que a figura totalmente azulada mais ao lado fez menção de levar ambas as mãos até seu elmo.

Assim que o objeto foi levantado, as longas madeixas ainda mais resplandecentes do que sua própria armadura caíram-lhe pelos ombros num branco capaz de trazer certo desconforto aos olhos em meio ao ambiente escurecido. O fauno mais antigo escondeu ambos os olhos atrás da mão, enquanto o mascarado precisou abaixar a cabeça simplesmente pelo fato de não suportar aquilo.

O que era? Nem mesmo Vhraz’akan, presente entre os demais, conseguiria explicar. Uma mistura de conforto, perigo e admiração cruzou todo o seu corpo em questão de segundos. O ambiente tornou-se bem mais frio do que anteriormente, e percebeu que algumas taças haviam rachado na base. Baba Yaga parou de beber a sua mistura purpura para dar uma olhadela desconfiada à imagem quase que divina sentada à mesa, com espinhos simétricos que nasciam do topo de seu crânio como uma coroa farpada. De feições que beiravam o feminino mas que também prendiam-se ao masculino, seus olhos mantinham-se fechados, embora cruzados por uma cicatriz extremamente profunda que, ainda assim, passava um ar de delicadeza à sua face.

— Minha espada será sua nesse confronto até que reconquiste minha honra, Vossa Majestade — havia um eco somado à sua voz, mas não eram de outras além da sua própria. Ela apenas tornava-se tão melódica quanto a sinfonia do violinista, ganhando facilmente o espaço do saguão e mantendo-se como o verdadeiro suprassumo do momento.


Zhurati levantou uma sobrancelha enquanto balançava a taça com descaso. Por outro lado, Baba Yaga precisou-se recuperar o ar após engasgar-se com sua bebida, tentando decidir se voltava a respirar ou caía em um mar de gargalhadas que mal podia controlar. Os faunos, que já encontravam-se acanhados frente aos convidados, mantinham-se em completo silêncio. Vhraz’akan ainda não sabia dizer o que aquela figura quase que divina era, muito menos do que tratava-se a sensação que arrebatou seus sentidos por completo anteriormente.

— Agradeço a consideração, Azmael

— Essa garota não veio pra brincar, escutou isso, maldito? — A bruxa, mesmo não sentada próxima de Vhraz’akan, fez questão de gesticular com o cotovelo como se o cutucasse.

— Sua língua só não é maior do que a sua incapacidade de manter-se em sociedade, velha — não havia qualquer alteração de tom naquelas palavras, apenas a frieza costumeira. — Estamos hoje aqui reunidos para decidirmos nosso próximo passo. Creio que todos os presentes se beneficiarão com o resultado bem sucedido dessa movimentação, independente de perdas menores.

”Mais?” A faunesa mais jovem sussurrou à direita do lich necromante.

— Dia após dia, Netheria torna-se mais forte. Não se tem como estabelecer controle sobre o fenômeno da morte, afinal. A cada último suspiro dado, a cada última palavra sentenciada, após cada momento em que pessoas se vêem pela última vez… precisamos agir o quanto antes — foi Avareza quem deu início com suas palavras carregadas de decisão.

— Huhuhu — Baba Yaga riu.

O violinista apareceu novamente como um breu sobre a mesa, trazendo dessa vez alguns pratos com pães, geléias, presuntos e sopas de vegetais. Os faunos deliciaram-se com o banquete servido, embora os demais parecessem desinteressados em fazê-lo.

— Netheria não será páreo para as forças que temos até agora. Acredito termos o suficiente para marcharmos contra o que quer que aquele cemitério possua. — Zhurati comentou.

— Tolo — a bruxa divertiu-se.

— Netheria foi elemento chave na Cadência para o Leste de anos atrás, quando perdi minha honra. Antes um ponto geográfico estratégico para guerra, tendo aliados fortes para tal, hoje não é menos importante do que no passado, muito pelo contrário — a voz do cavaleiro interveio como uma melodia divina. — Baluartes do Norte, para não perderem território, uniram-se aos Aristocratas Escarlates que tinham interesse em derrotar as tropas alastrias, liderando licans e amaldiçoados de todos os tipos. E vos já sabem que os necromantes de Netheria não ficaram atrasados nisso tudo, ainda que tenham se mantido atrás das cortinas perfeitamente.

O silêncio perdurou.

— Os necromantes…? — Strenmyr interrogou como se as palavras deslizassem por seus lábios.

— Os Portões da Morte — revelou Avareza com um certo brilho em seu olhar. O mais próximo da demonstração de sentimentos desde que havia surgido. — Se não fosse pelo imprevisto, eles teriam ganho a guerra naquele dia. O erro custou caro. E Netheria transformou-se no que é hoje.

Os faunos continuavam a deliciarem-se com a comida. Se Vhraz’akan sentisse fome, ou apenas pelo costume, talvez fosse um bom momento para juntar-se à comilância.

— Eles esconderam-se bem — Zhurati continuou. — Pensei que estivessem mortos há anos. Não são mais uma ameaça desde que a…

— Não diga esse nome! — Baba Yaga interceptou-o cuspindo o queijo por um dente bifurcado. — Você mais do que todos deveria evitar chamá-la em seu lar.

— Não tenho medo, cara senhora — o dono das tatuagens sorriu. — O Dissídio não é apenas uma lenda. É real.

— Pois é melhor que tenhas, Cultista. Sua adoração ao proibido ainda custar-lhe-á caro — Azmael pontuou.

— O Dissídio pode ser real, seu cínico, mas você eu sei que é falso. Passa esse pão aqui rapaz! — Baba Yaga interceptou o fauno mascarado que preparava sua refeição, abocanhando de uma só vez.

Em seu trono, a mulher levou uma mão à face.

— Eu nunca tinha ouvido falar sobre… esses necromantes antes — o fauno idoso ressaltou.

— São mais do que necromantes. Eles irradiam a morte. Nós, que caminhamos entre os vivos tendo superado seus limites, livramo-nos de cruzá-los para o caminho da eternidade do sofrimento em um limbo de acordo com seus julgamentos. Mas Zhurati não está errado em suas palavras… — realizou uma pausa, como quem reagrupa os pensamentos. — Eles não são uma ameaça tão forte por surgir algo ainda maior do que seu poderio. Contudo, os lichs de Netheria farão todo o necessário para trazê-los de volta e, dessa vez, romper finalmente os limites da vida e da morte. A partir daí, serão duas ameaças de uma só vez.

— Mas não é com o bem-estar do mundo que você está preocupada, garotinha — a bruxa pontuou com certo deboche na fala.

— Não. Eu só quero que eles paguem.

— Mas eles sequer estão entre nós, Majestade, como… — Zhurati concluiu o pensamento antes de realizar a interrogação. Abriu um sorriso em seus lábios negros assim que constatou do que estavam falando. — Não. Você deve ter deixado a ambição falar alto demais dessa vez, Avareza.

— Você sabe mais do que todos do que eu sou feita.

— Ainda não entendi o que eu ganho com isso? — A idosa jogou no ar.

— Nosso próximo passo será dado antes da próxima lua cheia. As Criptas Profanas são o destino.

Os olhos da bruxa brilharam. E então, ela riu.

— Como você é maluca! Mais doida do que eu! Bwahahaha! — Desatou a rir. — Aliás, como uma lich, você sabe o ponto fraco dos seus inimigos, não é mesmo? Sua vadiazinha suja… — o violinista apareceu como uma sombra sobre a mulher, que pouco importou-se. Vhraz’akan percebeu que havia um tom de seriedade naquele insulto. — E o que você quer em troca?

— Seu conhecimento em poções — a mulher pontuou de imediato. — Afinal, você vem trazendo os mortos à vida sem nem mesmo uma mana específica para tal. Sei que alguns de nossos oponentes em Netheria são crias suas, velha.

— Direta, como sempre. Eu só espero que saiba o que está fazendo, cara — nenhuma risada dessa vez.

— Marcharei com minha espada e armadura contra as Cripta Profanas, então. Após isso, finalmente destruiremos Netheria — Azmael interveio.

— Nosso objetivo nas Criptas não é nada mais do que de formar uma aliança. Com certeza os terrores de lá não serão páreos para você, mas não é de combate que precisamos por agora. Guarde suas forças para quando precisar resgatar sua honra no campo de batalha, Azmael.

Os olhares de Zhurati e de Avareza se chocaram no fim daquelas palavras.

— Quanto a você…

— Sabe que já tenho o suficiente, Vossa Majestade. A simples ousadia de seu plano já é o motivo pelo qual aceito participar dessa plena falta de lucidez. Estarei por perto quando precisar de meus conhecimentos do oculto para realizar as invocações.

— Invocações? — A faunesa jovem interrogou.

Zhurati riu com tamanha ingenuidade. Percebeu que os demais não tinham entendido o que Avareza almejava.

— Invocaremos os Portões da Morte. E então, mataremo-nos um a um.

O silêncio instaurou-se novamente. Baba Yaga parecia não ter mais humor para continuar o assunto.

— Eu ainda não entendi… a partir de qual ponto do plano concordamos em ir tão longe? Só queríamos Ezhevet de volta — o mascarado interrogou.

— Vocês o terão de volta e também terão o lich responsável pela sua transformação para que façam o que quiserem com ele. Não precisam seguirem o restante do plano se não quiserem — a mulher bocejou — só preciso que entreguem algo nas Criptas Profanas. Burmahk, Luvwieq, Strenmyr, Niqemae, Ythar, Zhonyee e…

Pela primeira vez, ela observou Vhraz’akan. O homem sentiu aquelas orbes esverdeadas suprimirem sua existência apenas pelo contato visual.

— Vhraz’akan — A bruxa comentou.

— Minha vontade é que cruzem a Garganta do Desespero e cheguem às Criptas Profanas para entregar um símbolo do nosso acordo. Não demorem demais a se organizarem nessa partida — o caminho não é gentil e tampouco sou eu com fracassos em meus planos.

Azmael foi o primeiro convidado a desaparecer num brilho como se jamais tivesse tido presente. As coisas começaram a se desfacelar em surrealismos pesados — Zhurati ao lado desfez-se numa névoa cor de sangue, a mesa de ossos transformou-se em uma ventania responsável por transformar os faunos em lascos na ambientação, como lacunas que não haviam sido preenchidas. Uma leve impressão de ter visto Baba Yaga bebericar um frasco e desaparecer também perpassou-lhe os sentidos. Tudo ia fazendo cada vez menos sentido.

— Isso é tudo.

Então, de repente, estava nas vielas de Charissa novamente. Nenhum vestígio dos domínios de Avareza. Nenhum fauno. Nem convidados. Seus bolsos pesavam: uma quantia de ouro encontrava-se em sua posse, bem como um olho preso ao resto de uma córnea.

15 de EXP pela Interação anterior;
Olho Lúgubre como Acessório II;
Conhecimento sobre os Portões da Morte;
Conhecimento superficial sobre A Cadência para o Leste.

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Seg Out 19, 2020 12:29 am

P arado em uma das vielas da cidadela principal como se nada houvesse ocorrido, imaginei por um segundo que tudo poderia ter sido um sonho, claro, não fosse os acontecimentos estarem tão vivos em minha cabeça. Fora isso, ainda podia sentir em minha boca o gosto daquele líquido vermelho que bebera durante o banquete não só de alimentos, mas também de incontáveis e valiosas informações.

Avareza era real, assim como todos os outros e tudo o que fora conversado anteriormente naquela peculiar reunião.

Como um bom antigo arcano, havia me limitado naquele momento a memorizar palavras-chave e atentar-me às entrelinhas dos diálogos, ignorando quaisquer sentimentos de repúdio que sentia, fosse por Baba Yaga, pelos faunesos ou mesmo pela mulher quando enfatizou minha fraqueza enquanto lich. Digno de pena, suas palavras descabíveis ecoaram novamente por entre meus pensamentos. De qualquer modo, independente do meu desgosto por parte do que fora acordado ali, incluindo minha união com os híbridos imundos, meu lado ambicioso sabia reconhecer as oportunidades dispostas sobre a mesa.

O primeiro sinal de que haviam vantagens para mim nessa situação estava ali em meus bolsos, estes recheados por moedas de ouro que eram quase o dobro das que tinha originalmente. Fora isso, o estranho olho agora fixado em minha córnea direita no mínimo servia para deixar-me num estado mais próximo do que um dia estivera, quando em vida. A mulher era uma arrogante desgraçada, porém seus conhecimentos, suposta riqueza e principalmente poderes instigaram-me a níveis que eu jamais presenciara antes, nem mesmo em Alastrine. Pequenos sacríficos, como lidar com sua petulância ou com aqueles faunos, seriam apenas partes de um todo muito maior.

Instigado, antes que as memórias começassem a se tornar menos frescas, busquei por um canto dentre as vielas no qual pudesse concentrar-me. Tão logo o achei, saquei do casaco meu pequeno livreto de anotações e passei a rabiscar nele uma série de palavras, perguntas e ponderações que se formulavam em minha cabeça.

AVAREZA

Tem desavenças e rancor com Netheria. Quer que eles paguem por algo. Lich, necromante, detalhista e prática.

  • Habilidades com ossos;
  • Seria essa uma ramificação específica da necromancia?
  • Sou capaz de aprender?
  • Ela possui outros poderes?
  • Como seu coração palpita?
Há alguma forma de recuperar o funcionamento dos meus órgãos? Pesquisar

ZURATHI

Não confiável. Parece ser um diplomata com vasto conhecimento e lábia.

  • Baba Yaga sabe algo sobre ele? Averiguar
  • Quais conhecimentos do oculto possui?
  • Quais invocações é capaz de realizar?
  • O que diria se não fosse interrompido pela velha? "O Dissídio não é apenas uma lenda"
  • Irá ajudar a invocar os Portões da Morte*;
  • *O que são os Portões da Morte? Pesquisar

AZMAEL

Uma incógnita. O ambiente ficou mais frio com a sua chegada. Taças racharam na base. Senti-me confortável, porém receoso, como se ele representasse algum perigo. Gênero não identificado, visto os traços masculinos e femininos.

  • O que ou quem é?
  • O que causa sua presença quase esmagadora?

OUTROS

  • Cadência para o Leste;
  • Baluartes do Norte;
  • Aristocratas Escarlates;
  • Licans;
  • Garganta do Desespero;
  • Criptas Profanas.
Baba Yaga parece saber o que nos espera nas Criptas. Tem algo a ver com o ponto fraco dos inimigos, e se os inimigos são lich, eu também devo correr perigo lá.

Era um processo que há anos me trazia muito prazer e ajudava a organizar ideias e pensamentos que podiam se perder com o passar dos dias. De tudo isso, se tirava que uma visita a alguma das bibliotecas chari era mais do que necessário. Haviam questões iniciais que eu havia formulado após minha conversa com a bruxa velha, porém agora outras muito mais importantes surgiram.

Precisava me preparar pra seguir em grupo com aquele bando de faunos por caminhos que sequer conhecia, para encarar supostos perigos certamente tão desafiadores quanto a convivência com o sexteto de híbridos asquerosos. Meu único contentamento nisso era torcer para que as baixas menores citadas por Avareza se tratassem deles.

Levantei-me, guardei meu livreto num dos bolsos internos do casaco e rumei por entre as vielas com intuito de encontrar um local onde pudesse realizar meus estudos. Pensei em perguntar para alguém a respeito da localização das bibliotecas, mas não era necessária muita percepção para notar o quão antipáticas e suspeitas são a maioria das criaturas que andam por Charissa. Inclusive, meus olhos estavam muito atentos com as aproximações que vinham de encontro a mim, tão atentos nelas que acabei me descuidando da retaguarda.

Uma sombra passou ao meu lado e então senti o bolso no qual guardava o saco de moedas ficar menos pesado de um segundo pro outro. Por reflexo, minha única reação foi a de mirar naquele vulto negro que já se distanciava e abrir minha mão, disparando nele minha própria essência por meio de um projétil nocivo de mana.

Sendo atingido, ele deslizou entre seus próprios velozes passos, girou e enfim virou-se para mim, armado e pronto para revidar.

[CL] Póstumo - Página 2 9j9U8JM

— Deixa eu levar o ouro que você fica bem, camarada.




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Sáb Out 24, 2020 7:35 pm

E u esbocei um sorriso malicioso, como quem acabara gostando da situação. Era nele que eu descontaria a raiva que reprimi durante os momentos em que fiquei ajoelhado no salão do trono, com os faunos debochando de mim, ou mesmo quando senti-me compelido a prestar saudações à Avareza como se eu fosse um inferior qualquer. Faria-o sentir tanta dor por sua petulância que ele desejaria que aquela aberração violinista estivesse ali para entorpecer seus sentidos quando eu acabasse com sua raça.

Ele avançou, curvado e tão ágil que quase não consegui reagir em tempo. Liberei minha aura mórbida por meio da mão e já muito próximo, ele assustou-se, freando a investida munida da arma branca em sua posse. O pouco espaçamento entre nós era o suficiente para eu agir, dando-lhe um chute diretamente no queixo, ou no bico, ou no que quer que se chamasse aquela região em aves asquerosas como ele.

— Aargh! — exclamou enquanto caía pra trás.

Canalizei minha mana pelo braço e estava pronto para desferir um outro ataque a queima-roupa quando uma segunda criatura entrou em cena. Era um Kenku bem como o ladrão, porém pequeno, trêmulo e choroso; certamente ainda um filhote catarrento. Colocou-se na frente do adulto, seus olhos negros e suplicantes pedindo por clemência.

— D-desculpa! Descul-lpa meu i-irmão, por fav-vor — repetia com a voz esganiçada e falhando, já se pondo de joelhos. — A g-gente só tá... só tá com fo-ome...

— Então roubem comida invés do meu ouro — fui enfático, sem qualquer empatia pela situação daquelas criaturas abomináveis. — Você, devolva o que pegou e vá embora antes que eu mude de ideia.

Em momento nenhum deixei que a magia pré-canalizada em minha mão destra cessasse. Para a sorte deles, o mais velho decidiu agir com a razão e me entregar, ainda que de má vontade, o que era meu por direito. Não me senti totalmente satisfeito com o desfecho da situação, mas ao menos pude aliviar minhas frustrações os fazendo se sentirem humilhados diante de mim.

— Ei — os chamei antes que dobrassem a esquina mais em frente. — Sabem onde ficam as bibliotecas por aqui?

— Em Charissa você só vai encontrar aquilo que quer ser encontrado — o Kenku adulto respondeu, sumindo enfim com seu pequeno irmão.

Que porcaria isso quer dizer?




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Sáb Out 24, 2020 10:18 pm
Quest Comum
Encontrar Aquilo que Quer Ser Encontrado

Descrição: Com o olho misterioso conectado à sua córnea, o lich passou a ter visões logo após o confronto com os kenkus. Assim que as palavras foram cuspidas pelo bico do corvinata, foi como se aquele orbe se acendesse de maneira mágica, consumindo sua mana para a ativação. Vhraz'akan viu. Mais coincidência do que achava para algo sem perigo, o homem enxergou uma gama infinita de livros e pergaminhos perdidos ao longo de galerias que flutuavam em meio ao nada. Cada vez que piscava, era como se perdesse mais o foco e sua mana fosse ainda mais sugada — de alguma forma, ele sabia como faria para chegar lá: uma construção colossal mantida invisível mas que, com a ajuda do que carregava em sua córnea, tornaria-se visível e acessível, é claro, com certo valor de sua mana.
Recompensas: 50 de XP — Baú Básico  — Ouro a ser definido na conclusão

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Dom Out 25, 2020 12:51 am

F oi como a visão do mais belo e refrescante oásis em meio a um árido deserto no dia mais intenso de sol. Imagine que tenha andado por semanas num território fustigante, longe de seu lar e de qualquer alimento que seja cabível e agradável ao seu paladar. Então, de um segundo para o outro, o vislumbre de um banquete repleto das refeições que mais gosta se forma em sua frente. No meu caso, os pratos eram pergaminhos, livros, papiros e uma infinidade de arquivos, todos ali flutuando como se chamassem pelas mentes mais aguçadas, desafiando-as a absorver e entender seus misteriosos conteúdos.

Presenciei meu peito sendo de átimo preenchido por uma curiosidade insaciável que, embora fosse conhecida, há muito não era sentida. Lembrei-me das bibliotecas de Alastrine, tão vastas e donas de um acervo gigantesco, mas limitado após anos e anos de visitas. Não importava o quanto houvesse oculto por entre as páginas alastrias, eu, e tantos outros, sempre queríamos algo mais, e ali estava esse algo. Imaginei o quão invejados não ficariam alguns dos estudiosos que conhecia no reino, e o quanto não gostariam agora de estarem em minha posição.

— Obrigado, Majestade — não pude deixar de agradecer pelo presente que servia como uma espécie de guia até as galerias flutuantes.

O ardor que sentia na órbita pouco me incomodava, assim como a sensação da mana sendo drenada e consumida vagarosamente pelo peculiar olho. Se aquele era o preço a se pagar para ter acesso àquela gama infinita de conhecimento, eu estava disposto a fornecer até mesmo o triplo, fosse em dor, fosse em energia manarial.

Iniciei a caminhada pelo rumo que o orbe ocular ditava, apressado em meus passos uma vez que a miragem tornava-se mais desfocada a cada piscadela das pálpebras, consumindo uma nova parcela de minha mana. Talvez houvesse uma forma correta de utilizar aquele presente, ou fosse preciso apenas que ele se adequasse ao meu corpo para então funcionar perfeitamente. De qualquer modo, isso agora pouco importava ou me passava pelos pensamentos. Mantinha-me focado nos vislumbres da biblioteca e em minha movimentação, sentindo meu estômago clamar para ter sua fome saciada.

...

A construção era colossal.

Invisível num primeiro momento, revelou-se para mim assim que uma nova porção da minha mana foi consumida pelo globo ocular. Reparei que independente de sua aparição, os demais que caminhavam nos arredores permaneciam a ignorando, como se sequer percebessem a presença da imensa biblioteca ali. Senti-me agraciado pela oportunidade que aqueles seres obtusos não tinham, logo me adiantando em adentrar o estabelecimento. Pouco reparei nos detalhes exteriores; o que me importava de fato era o que a parte de dentro abrigava.

— Quero tudo o que tiver a respeito de necromancia — sequer saudei o bibliotecário na entrada dada a empolgação que sentia. Faziam semanas que não tinha contato com algo assim, ele precisava entender minha sede pelo conhecimento. — Também preciso ler sobre a Garganta do Desespero e as Criptas Profan... — fui interrompido pela visão de uma leva de rolos de pergaminhos passando acima da minha cabeça.

Só então noitei como o ar ali estava pesado, certamente influenciado pela alta escala de magia presente no local. Desfrutei dessa sensação em algumas seções específicas em Alastrine, mas isso ia muito, muito além. O cheiro, a sensação do proibido, tudo compunha um cenário perfeito aos olhos ambiciosos de alguém como eu, e mal podia esperar para desbravar cada pedaço dele.




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Dom Out 25, 2020 4:08 am
[CL] Póstumo - Página 2 Aquilo


Afinal, o que é uma biblioteca? Talvez fosse o primeiro pensamento de Vhraz’akan assim que percebeu a situação em que se encontrava.

Para alastrios, é comum que a comunhão de saberes públicos encontrem-se divulgados em espaços ao longo de todo o reino. Acesso a feitiços, encantamentos e até mesmo crônicas que estruturam toda a história do continente até os tempos modernos, sejam elas em runas ou no idioma alureano tradicional.

Contudo, em Charissa, esse conceito decompõe-se ao seu mais essencial — sem decorações à base da mão e escrita humana difundida na região, sem runas antigas canonizadas pelos rúna meistrari que dedicam suas vidas apenas aos estudos, afinal, a verdadeira existência da dissidência baseia-se apenas naquilo que vai contra a ordem em si. Sem estantes, sem prateleiras, sem aquele aroma difundido pela madeira retirada de árvores e então marcenadas até que sejam utilizadas para coletâneas infinitas de saberes.

Era como ter sido engolido por um enorme monstro e acordar em seu interior. O chão abaixo de si sucumbiu dando espaço apenas àquele tecido noduloso que se estendia como veias grossas por todo o lugar, abrindo-se em buracos naquele grande saguão orgânico, que davam espaço a caminhos que poderiam levar ainda mais profundamente a aquilo que buscava. Os livros e pergaminhos organizavam-se em lugar algum — embora muitos outros visitantes estivessem empunhando as coletâneas mais diversas, não havia sequer sinal de onde poderia encontrá-los.

Haviam galerias, sim, mas de… algo completamente diferente do que o lich imaginava. Conforme um grupo de pergaminhos passou flutuando acima de sua cabeça, ele pôde notar ao longo do lugar diversas escadas de pura mana que conectavam-se a túneis dentro de toda aquela… coisa. As demais criaturas continham-se em suas leituras com tomos e grimórios encantados, páginas que, ao serem ativadas com magia, contavam história sumonando o próprio acontecimento histórico como numa ilusão mística. A porta atrás de si? Não havia sequer vestígios. Notou pelo lado, no topo de uma escadaria que havia se criado em meio ao nada para conectar-se num dos nódulos do saguão, uma espécie de homem-rato enfiando a mão naquela estrutura e, ali, surgindo uma cavidade oral — o que assemelhava-se a uma língua esgueirou-se para fora trazendo um livreto de capa rasgada, entregando-o nas mãos do roedor que pareceu entusiasmado ao encontrá-lo.

Foi assim que, com a devida coragem, verbalizou aquelas palavras. Externalizou o que procurava para algo.

Foi imediato. Adiante, como se sempre tivesse estado ali, a grande muralha orgânica repleta de proeminências abriu-se verticalmente em um olho colossal. Extremamente imponente e com um tom tão azul que mais parecia exalar a pura infinidade da cor, a fenda em seu centro focou-se em Vhraz’akan e em nada mais, como se todos os outros fossem apenas meras criações de sua própria mente. A imensidade azulada foi para cima, então, para baixo, ainda mantendo-se focada no lich, como se o estudasse por inteiro e lesse sua alma, bem como suas verdadeiras intenções. Por alguma razão, o morto-vivo percebeu que independentemente de suas palavras ele seria atendido apenas pela ligação que sentiu ser estabelecida naquele mesmo instante.

O seu olho “emprestado” ardeu como se abrissem um novo buraco em seu crânio à base de brasas. Ele enxergou as respostas naquele grande olho que comunicava-se… embora nenhuma palavra fosse emitida. Algumas informações foram passadas a princípio, diretamente enraizadas no seu cérebro necrosado como um agricultor realiza com maestria o plantio necessário.

Soube que aquilo tratava-se de um ser que havia vivido durante eras inteiras. Sua importância perpassou-se pelos conhecimentos herdados com a mesma facilidade que um coração bombeia o sangue para o restante dos órgãos — as novas células adquiridas trouxeram uma dor de cabeça lacinante, como se fosse invadido por uma tonelada que sua cabeça não podia suportar por inteiro. Não obstante, sentiu sua cabeça ser esmagada por uma gama de saberes que pareceram sempre estarem ali — principalmente o fato de que estava sendo testado. De alguma forma, seu intelecto condizia com a situação e conseguiu manter-se digno mesmo após perder a batalha mental e, embora sem fôlego, sabia que os espólios viriam cedo ou tarde. O Conceptáculo, apesar de pouco contente, parecia entender que suas buscas eram rasas e pertinentes a quem havia o deixado chegar tão longe.

O olho fechou-se. Uma gama densa de cavidades abriram-se ao redor, fechando-se a abrindo novamente com a imensidão azul em seu centro. Pareciam conversar em linguas oculares com a visão recém herdada de Vhraz’akan que, então, percebeu que aquilo que carregava fazia parte de um todo. Ali ele compreendeu a oculariência — embora não soubesse ao todo, compreendeu que tratava-se de um idioma relacionado àquela raça específica que comunicava-se com os olhos. Piscar durante meio segundo poderia significar uma saudação, enquanto um milissegundo a mais significaria uma ameaça de morte.

Não obstante, todos aqueles outros olhos fecharam-se, mantendo-se apenas o gigante em seu centro. Por exceção de uma pequena cavidade ocular que manteve-se aberta, contudo, sem a orbe — sentiu-se guiado pelo novo olho que carregava e caminhou por escadas que foram formadas abaixo de seus pés até chegar numa altura considerável. Ali, tão próximo daquele azul imenso do olho, sentiu-se ainda mais drenado e estudado, como se fosse gradativamente absorvido cada vez mais e todos os seus segredos, até mesmo daqueles que não fazia ideia, fossem entregues de bandeja ao conceptáculo. Daquela cavidade, surgiu algo similar a uma lingua trazendo uma gama de pergaminhos enrolados e livros rasgados. Tudo abriu-se ao redor do homem de uma única vez, expondo o conhecimento que tanto buscava.

Uma página pouco rasgada trouxe runas chari que Vhraz’akan sequer compreendia. Contudo, foram traduzidas de imediato para seu consciente conforme aquele olho em sua face piscava em diferentes tempos e intervalos.

”A Garganta do Desespero é um lugar de pura aflição encontrado pouco ao sul saindo das imediações chari. Trata-se de um lugar repleto de criaturas que erguem-se do próprio terreno amaldiçoado, com picos de terra enegrecidos como estacas levantadas prestes a cravarem-se no primeiro desatento que encontrarem. Durante muito tempo, em meus estudos, tentei encontrar a verdadeira motivação do lugar ter virado o que é hodiernamente e, seguindo todos os pontos, cheguei então ao que parece tratar-se da peça-chave para três pilares existentes.

As Criptas Profanas. Lá há apenas o indesejável. Nós, que acostumamo-nos com a desordem e caos de Charissa, somos migalhas perto dos verdadeiros terrores que não levantaram-se das tumbas, mas sim violaram-nas de maneira diferente dos necromantes, banindo os conceitos de vida e de morte, trazendo o meio termo, a nulidez, aquilo que existe somente na inexistência e apenas para ela. Um lugar que serve como uma muralha entre pontos que geraram muito atrito numa guerra conhecida há anos atrás — Charissa e Netheria.

Seres que não podem ser facilmente compreendidos — poderes que tramitam entre o palpável e o imaginável.”

As demais páginas faltavam: apenas rasgos maltrapilhos compunham seu restante. Agora, no lugar de livros e pergaminhos, uma lasca de pedra negra grande flutuava com diversas inscrições ao longo de toda a sua extensão. Não eram apenas papiros que aquela espécie de biblioteca guardava.

”Os Portões da Morte tratam-se de sete, parte de um todo derrotado há muitas gerações atrás por forças alastrias em nome dos cinco.

É crucial que seus nomes não sejam ditos até que cruzem o limiar de suas inexistências presentes na morte causada pelo evento catastrófico proibido. Seres que alimentaram-se durante anos de tudo aquilo que a humanidade encarava como algo representante do próprio conceito de mal e tornaram-se tão grandiosos a ponto de erguerem seitas que geraram muito da cultura e do misticismo, além da procura pelo oculto presente em Charissa. Existe uma profecia que estrutura sua origem e, de acordo com necromantes de Netheria, contam também a respeito de sua volta.

Esse é o verdadeiro sentido de Netheria existir da forma como é atualmente, substituindo a aldeia pacata de clérigos que um dia já foi. A tentativa de rompimento da morte dos sete reis fez com que todo o lugar fosse tocado pelas mãos da própria morte, trazendo um passado antigo e oculto secular que deveria ter sido esquecido, enterrado num lugar que durante tempos perdurou como fazendas para pastores gentis e agricultores esperançosos que, hoje, tratam-se de generais de um império que há de crescer e consumir tudo adiante — a vida, a fé e qualquer obstáculo que mantiver-se em sua frente.

Alguns lichs crêem no boato de que um dos reis foi invocado nessa ruptura de seu descanso incompleto, como uma falha, e sua vontade foi corrompida, história completamente distorcida e nome verdadeiro enfraquecido para todo o sempre em prol da guerra ocorrida. Atualmente, encontra forças apenas em seu título. Ainda há a suposição de que Netheria espera por um acontecimento específico para que essa fenda aberta entre a vida e a morte seja ainda mais aberta, dando passagem aos demais para que, por fim, unifiquem-se novamente.”

Como num canal de sucção, tudo aquilo foi sugado para a cavidade novamente.

A espécie de buraco abriu-se ainda mais apenas para trazer algo emantado numa aura esverdeada e pútrida.

[CL] Póstumo - Página 2 Tome

O crânio cravejado na capa férrea chamava atenção. Correntes deliberavam-se por suas laterais, com uma chave de ossos na extremidade perfeita para adentrar na profundidade logo na bocarra da cabeça óssea, provavelmente um mecanismo de bloqueio e desbloqueio. O item passava uma aura necrótica tão nefasta que a de Vhraz’akan poderia ser uma leve brisa de ar numa noite cálida como qualquer outra. Ele ouviu incessantes gritos de almas perdidas, o olho que traduzia-lhe as runas chari anteriormente piscou diversas vezes como se na vontade de descriptografar aquele novo conhecimento, fosse no idioma em que estivesse. Embora tenha tido vontade de estender as mãos para pegá-lo, logo foi engolido de volta para a cavidade que fechou-se em seguida.

A escada em que estava foi realizando o caminho de volta mais uma vez. Agora, diante do centro do local, fitando aquele colossal olho azul, ele conseguia entender a oculariência a partir daquele canal estabilizado.

— Traga algo que eu ainda não sei. E então, será teu. — O olho piscou comunicando-lhe com a própria voz do necromante dentro de seu consciente.

Olho Lúgubre (1) — Carga Consumida.
- 50 de Mana durante os próximos três posts.

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