[CL] 00. Empowerment

Fugir de casa nunca foi uma questão, eu queria que soubessem o motivo de minha partida, o que me trouxe ao meu destino, à minha realidade. Odiá-los? Jamais! Meus pais não tinham culpa de serem pequenos, minúsculos, insignificantes... Foram criados assim e eu continuo amando-os de todo meu coração. Não me julgue errado, por favor. Eu só não queria ter o mesmo destino deles. Eu sabia que podia ir além, e eu fui.


A iniciação nunca seria fácil e eu não esperava que fosse. Por mais que eu ame ser uma alastria, o machismo que circundava os candidatos à altoguardas era nauseante. Não era algo só dos candidatos, obviamente já estavam inseridos no militarismo alastrio. Ser uma escudeira? Eles não permitiriam tamanha audácia e cada dia de treinamento era uma nova onda de tormenta. Eles tentavam abalar meu psicológico com xingamentos, calúnias e qualquer coisa que manchasse a honra de uma mulher, mas eu não cederia assim tão fácil. Os aplicadores nada faziam, apenas observavam. E foi em mais um dia de treino que eu conquistei o #1.

— Ô garota? Você vai mesmo fazer teste para escudeiro? - O homem que se aproximava fedia à cerveja e tabaco.

— Foi para isso que treinei, senhor. - respondi com determinação.

— Pff, uma fedelha como você passou na iniciação? - ele olhou para um dos aplicadores ali próximo, desconfiado - É sério isso? - o aplicador apenas acenou positivamente com a cabeça - Então vamos ver do que você é capaz.

— Sim senhor!

Me dirigi ao campo de terra batida que ficava a alguns metros da bancada dos avaliadores e do homem grosseiro. Ele duvidava da minha capacidade, já os avaliadores... Fitei meu oponente, um candidato assim como eu. Daquele embate só um seria altoguarda. E eu seria a campeã.

Meu adversário mantinha um sorriso no rosto. Forte, ombros largos, pernas grossas e quase dois metros de altura. Tudo isso contra uma mulher magra, seios fartos, quadris volumosos e belos cabelos negros. Era isso que eles enxergavam. Pena.

O candidato que me enfrentaria apontou a espada em minha direção e pareceu dizer que iria pegar leve. Não esbocei reação alguma, apenas aprumei o escudo e foquei em estudar os movimentos do inimigo. Ele avançou, relaxado, estava certo da vitória, mas... Aparei o golpe dele facilmente, ele pareceu não acreditar e, aproveitando de sua guarda baixa, desferi um murro no lado direito do rosto dele. O cara parecia incrédulo.

— Puta!

— Franguinho. - sorri.

Aquilo era suficiente para tirá-lo do sério. Ele bradou em fúria e girou desajeitadamente para me acertar. Talvez aquele golpe me derrubasse, visto que o homem realmente era forte, mas era burro demais. Só precisei de um segundo para canalizar meu vigor ao escudo. Era incrível sentir a energia sendo direcionada do meu corpo até o escudo em minhas mãos e, rapidamente, eu já estava me reposicionando, garantindo que o golpe dele acertasse o ar e eu estivesse à uma distância segura. Meu adversário parecia não acreditar no que estava acontecendo, tanto quanto o soldado grosseiro boquiaberto logo atrás de mim. Com mais um impulso, avancei sobre meu oponente e o levei ao chão com o impacto do meu escudo. Ele caiu. O nariz sangrava, e provavelmente algumas costelas estavissem quebradas, já que ele cuspiu sangue quando foi ao chão, mas eu fiz questão de gritar para que todos vissem.

— BY HONOR AND JUSTICE!


Era tão glorificante relembrar esses momentos, sabe? Terminei de me despir e já estava pronta para o banho. O alojamento estava com o movimento normal, mas ainda eram poucas mulheres que deixavam o conforto de suas vidinhas simplórias para servir aos propósitos da Ordem. Totalmente nua, fiz um coque desajeitado, peguei minha manta e fui para o salão de banho.

Reino de Alastrine
Capital - Alojamento de Soldados da Alataguarda

Nível Simples
Quest: Princípios do Princípio.
Descrição: De fato, ela precisaria dominar melhor sua mana caso estivesse atrás da promoção. Por recomendação de algum membro da própria Altaguarda, você recebe o nome de um grande professor arcanista alastrio que, com o tempo, largou o campo de batalha para se dedicar ao amor de sua vida: lecionar. O homem experiente encontra-se numa biblioteca pública do reino, uma das mais conhecidas e tradicionais. Talvez, se você conseguir convencer a figura de gênio forte de que é capaz de melhorar suas aptidões de mana, ele possa ensinar bons passos para te encaminhar a uma promoção mais tranquila e garantida.
Recompensas: 50 de XP — Baú Básico — Conhecimento Acerca de Princípios Arcanos (a ser desenvolvido) — Ouro a ser definido na conclusão.

• Se quiser considerar que foi Ilyanna quem te passou a recomendação, fique a vontade, eu apenas não quis decidir isso por você;
  
• Pode dar nome ao NPC Professor e também decidir se depois continuará os aprendizados com ele ou não. Dá pra tirar bastante coisa disso se quiser depois.

Reino de Alastrine
Capital - Biblioteca
Parte I

Com certeza fazer a ronda por Alastrine era a atividade mais importante de qualquer soldado altoguarda, como também a mais simplória. Eu adorava caminhar por Alastrine e ver o cotidiano do povo alastrio, um povo que vive de fé e dignidade, não como feras imundas e desorganizadas em casebres de madeira e folhas. Nós éramos maiores, organizados, civilizados e completamente dignos de respeito e clamor.

As paredes rochosas das principais construções de Alastrine eram deslumbrantes e o comércio borbulhava nos Centros Mercantis espalhados por toda a capital. Carnes frescas de yargr eram as mais comuns ali, além de vegetais e frutas belos e suculentos como em nenhum outro lugar de Alurea. Humanos fazem tudo tão melhor, não? Dobrei a esquina do quartel e segui minha ronda tranquilamente ao lado de Ilyanna e Francis, dois ótimos lanceiros da Altaguarda. Foi Ilyanna quem puxou o assunto da promoção novamente.

- Uriel, como vai fazer com questão da magia?
- O que tem isso? - caminhava com meu escudo preso ao meu braço esquerdo.
- Oras, se você quer a promoção, precisa de uma magia. Lembra que conversamos ontem?
- Ilyanna tem razão, Uriel. - disse o soldado que logo se ocupou de auxiliar uma senhora com suas compras.
- Ele é um bom rapaz, só precisa deixar de ser bom demais. - suspirei.
- Você que é uma pedra, Urizinha. - ela sorriu - Em alguma dessas milhares de bibliotecas deve ter um professor que te ensine à trabalhar melhor sua mana, Uri.
- Hm... Eu não sei se sou capaz de tamanhos feitos.
- Nada disso! - ela tomou minha mãos livre - Confie no poder de sua oração, irmã. Ore e logo sentirá a magia percorrer teu corpo.
- E-Eu orarei. - puxei minha mão e Ilyanna sorriu.
- Vamos continuar a ronda pela Zona Leste? Lá sempre tem alguma ação. - Francis havia retornado, sorridente.
- Vamos sim. - concordei.

Ser a #1 era minha realização pessoal. Eu queria mostrar o quão boa eu podia ser e havia conseguido tanto já. Contudo, eu claramente não estava satisfeita e nem meus avaliadores. Na Altaguarad é muito comum que capitães e generais sejam chamados de avaliadores, altoguardas que avaliam novatos aptos à serem muito mais e servirem com ainda mais afinco aos desejos da Ordem. Esse era o futuro que eu almejava. Eu queria ir muito mais além de rondas e limpeza do quartel. Eu quero ser General Altoguarda Uriel Ciriva Lindion.

A manhã passou rapidamente e sem maiores dificuldades durante a ronda da minha equipe. Resolvemos alguns pepinos entre comerciantes, ou uma briga de senhorinhas em uma das praças da cidade por conta de novelos de lã, mas nada de muito excitante. Eu tiraria a tarde de folga de hoje para procurar por um mestre em magia e Ilyanna havia dito algo sobre mestres assim ficarem imersos em bibliotecas. Então eu deveria procurar e uma coisa devo confessar: mestres não são fáceis de serem encontrados, viu? Mesmo nas maiores bibliotecas, mestres em magia estavam em longas e constantes viagens por todo o continente, em busca de novidades e artefatos importantes, mas em uma delas eu encontrei alguém.

A biblioteca era exatamente como todas as outras, cheia de livros de diversas eras, pessoas focadas lendo e muito silêncio. Porém, essa era ligeiramente diferente. O chão de madeira não fazia um barulho se quer enquanto eu caminhava por entre as prateleiras de livros, estes que estavam a se organizar completamente sozinhos nas estantes. Os bibliotecários caminhavam enquanto ditavam baixinho as palavras que uma pena escrevia sobre um pergaminho. Magia pura. Dirigi-me ao balcão, onde uma mulher gorda e nada simpática lia o jornal.

- Com licença?
- Hm? - a mulher nem levantou os olhos.
- Senhora? - insisti.
- O que vo...?! - ela engoliu em seco quando viu meu uniforme - Ah, um altoguarda. O que quer, soldado?
- Melhor assim. Eu gostaria de solicitar estudos com um mestre em magia.
- O que? - ela piscou sem parar, parecendo confusa com meu pedido. - Um mestre?
- Sim, minha querida. Está moca?
- Ah, não, não. Não sabia que portas estudavam.
- O que disse? - pensei em pegar o escudo em minhas costas, mas apenas cerrei o punho sobre o balcão.
- Perdão, foi uma brincadeirinha. O único mestre em magia está recluso nos fundos da igreja. - ela sorriu - Cuidado, ele morde.

Eu poderia ter estraçalhado a velha, mas eu sabia que a Altaguarda não era amada por alguns, mesmo que fizéssemos apenas o bem. Segui até o local apontado pela secretária e eu não poderia ficar menos encantada com o que via. Símbolos de uma escrita antiga tomava conta de todo o ambiente e eu podia jurar que brilhavam enquanto eu passava sobre eles. No teto, a clarabóia deixava os raios solares banharem toda essa porção da biblioteca e papéis voavam em sincronia de uma escrivaninha até uma figura sentada sobre uma almofada, esta que estava suspensa por um círculo mágico.

- O que quer, soldado?