[CL] Woorf Woorf!

A patinha direita tocou num galho repleto de flores róseas, afastando-o do caminho e deixando pares de pétalas caírem sobre a terra úmida num bailar solene.

O aroma de tudo ao redor deixava o inugatari quase que anestesiado — não era apenas o cheiro das hogu que traziam uma boa sensação, mas tudo ao redor parecia delicadamente coberto por uma película intransponível de tranquilidade. Sutoru observou um vale abrindo-se em meio à vegetação rósea mais ao longe, como se esculpido sobre a água com zonas residenciais amadeiradas que ligavam-se por pontes conforme algumas canoas cortavam a superfície aquosa com calma, espalhando as lótus oriundas da região que planavam ao redor.

De repente, a visão de Sutoru tornou-se turva como de costume. O canídeo espadachim levou uma pata à empunhadura da espada embainhada e suspirou profundamente, como se pudesse cheirar as memórias que surgiam conforme as laterais de sua visão eram comprometidas por uma neblina familiar. Ele farejou suas memórias com afeto.


— Um dia você visitará eles

Sutoru possuía metade de sua altura atual. Os galhos com pétalas decadentes púrpuras bloqueavam sua visão do acampamento feito. Fazia apenas alguns dias desde que haviam conseguido despistar um faminto predador da Península que perseguia-os pelo faro. Por sorte, o inugatari utilizou do seu também apurado para conseguir encontrar um campo de flores específicas que faria seu papel em ocultar seu cheiro daquele que os caçava. Seu mestre ajustou a fogueira em meio a pedras e galhos conforme repousava sua katana sobre o colo enquanto analisava a sua lâmina afiada.

Uma nuvem cobria sua face. Sutoru não conseguia vê-lo e nem farejar as lembranças que compunham suas feições.

— Lá você estará mais seguro do que em qualquer outro lugar da Progênise. Mas tome cuidado: permanecer na zona de conforto por tempo demais o fará tornar-se um deles. — As nuvens que encobriam seu rosto tornaram-se ainda mais densas assim que proferiu tais palavras. — Os progênitos de Choetsu nunca passam pelo que estamos vivenciando agora. Eles não precisam.

Então, a névoa sucumbiu tudo, e Sutoru perdeu-se do cheiro de seu passado.


O inugatari quase podia tocar as trilhas olfativas deixadas pela quantidade massiva de hogu no ar. Seu quimono farfalhou com uma brisa fresca antes de dar o primeiro passo em direção ao vilarejo Choetsu, já chamando atenção de alguns habitantes que locomoviam-se pela região da entrada. Sutoru manteve uma feição amistosa, apesar de não precisar mostrar a língua para tal — apenas um sorriso de canto foi o suficiente para fazer com que os guardas em seus postos não avançassem ou quisessem alguma satisfação a respeito da criatura.

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